As mudanças nas formas de trabalhar impactaram significativamente a vida das pessoas nos últimos anos. E, com isso, uma coisa ficou ainda mais evidente: o convívio social é fundamental para o bem-estar social e profissional.
Para abordar essa questão da importância do convívio social e o quanto isso impacta no dia a dia, seja ele no ambiente de trabalho ou em casa, conversamos com Hamilton Vedovato de Marque, psicólogo especialista em Habilidades Terapêuticas na Terapia Analítico-Comportamental.
Currículo
Formado em Psicologia CRP 08/32560 pela Universidade Positivo, Hamilton é especialista em Habilidades Terapêuticas na Terapia Analítico-Comportamental e atualmente está cursando especialização em Educação Especial e Inclusiva, além de ter ampla participação em cursos, treinamentos e workshops na área da psicologia e educação.
Atualmente, é psicólogo clínico em consultório particular e Analista em Psicologia Educacional no Sesc Paraná. Tem experiência em diversas áreas, dentre elas: comportamento, educação socioemocional, ansiedade e depressão, educação especial e inclusiva e orientação a pais e educadores.
Efeitos da pandemia
[JHF]: Hamilton, nos últimos anos estamos passando por um período de total adaptação, devido às influências da pandemia. Como psicólogo, como você vê os índices de problemas de saúde mental pela falta de interação, já que essa mudança ocorreu de maneira inesperada para o formato de trabalho home office?
[Hamilton]: A pandemia, de certa forma, impôs uma nova realidade para as pessoas, isso demandou uma adaptação imediata, sem nos dar muito tempo para refletir, até porque, naquele início, todos em geral estavam sob controle do medo e do receio e sem entender muito bem o que viria pela frente. Ficar em casa de forma forçada, foi fator que contribui para um alto grau de sofrimento psicológico, somado a isso, o distanciamento social imposto evidenciou como somos seres sociáveis, e a falta de contato presencial aumentou a ansiedade, transtornos depressivos, crises de pânico. Especialmente em crianças e adolescentes, se percebeu um grande déficit na aquisição de habilidades sociais que são desenvolvidas a partir da conexão com o outro.
JHF]: Em sua experiência, qual é a importância da interação presencial e na comunicação assertiva no ambiente de trabalho?
[Hamilton]: Enquanto característica da nossa própria espécie, o ser humano é totalmente relacional e isso garantiu a sobrevivência no sentido de proteção contra um elemento de perigo. Criar e estabelecer conexões autênticas é totalmente necessário, inclusive muitos estudos apontam que é um fator altamente protetivo contra depressão, ansiedade e outros transtornos. Além disso, no ambiente de trabalho permitem o compartilhamento de ideias e projetos, facilitam no momento de dar um feedback, o que torna a comunicação mais assertiva, potencializando as habilidades de enfrentar e lidar com as situações e dificuldades de forma adequada.
Trabalhar em casa
[JHF]: Em sua opinião, como os fatores externos podem interferir na produção quando falamos de trabalho 100% home office?
[Hamilton]: Veja, a questão maior desse ambiente de trabalho 100% home office é na realidade como está a organização desse contexto.
No presencial, temos um ambiente todo preparado e propício para trabalho, para o estudo, servindo como um estímulo ao nosso cérebro para registrar que é hora de se dedicar àquela função. Então, em home office é necessário que se tenha elementos que remetem àquela atividade que será exercida. Trabalhar no mesmo ambiente em que se dorme, por exemplo, pode trazer muitos estímulos que remetem a descansar, elevando o nível de distração.
O importante é que se busque uma rotina de trabalho, isso envolve se preparar para o trabalho, ter uma mesa adequada, evitar que a mesa tenha muitos pertences que levem à distração, horário de intervalo, e se possíveis momentos online de interação com a equipe do trabalho.
Trabalho híbrido
[JHF]: Qual é sua opinião sobre o trabalho híbrido? De alguma forma, favoreceu na qualidade de vida e ajudou na produção de trabalho, uma vez que a rotina ficou mais flexível?
[Hamilton]: Bom, o trabalho híbrido possibilita uma forma diferente de se relacionar com a rotina. Para algumas pessoas será interessante, para outras pode ser algo extremamente difícil de conciliar. Isso vai depender muito das características individuais, que formam a nossa personalidade. Mas olhando pela perspectiva de qualidade de vida, esse modelo de trabalho possibilita a otimização desse tempo para si, logo isso pode contribuir para um processo criativo.
Nos atendimentos clínicos observei que houve um aumento considerável de demandas relacionadas à ansiedade e dificuldades na relação interpessoal. Ao mesmo tempo, na medida que algumas pessoas foram retornando para o trabalho presencial, ou que adotaram regime híbrido, houve relatos de sentimento de bem estar por voltar à rotina e à convivência. Essa variação de respostas e reações dizem muito sobre o padrão de comportamento de cada pessoa.
Trabalho Híbrido e a psicologia
[JHF]: Na sua área, como você vê a possibilidade do trabalho de forma híbrida?
[Hamilton]: Eu, como trabalho em duas frentes de atuação, na área da educação, creio ser importante a presença, o convívio com os estudantes e comunidade escolar, no remoto é algo difícil. Já nos atendimentos em psicoterapia é algo possível, inclusive na pandemia da Covid-19 em 2020 reforçou isso. Porém, uma série de fatores devem ser levados em consideração, desde a disponibilidade do profissional psicólogo, e até mesmo o tipo de demanda do paciente. Algumas queixas do paciente demandam esse atendimento e acompanhamento presencial.
Dica de especialista
[JHF]: Agora, gostaríamos que você desse algumas dicas para as pessoas que trabalham em casa, no híbrido e nos escritórios, pensando em como ter mais qualidade de vida.
[Hamilton]: Para aqueles que atuam no modelo de trabalho em híbrido, é importante que se crie uma rotina de trabalho, com horários determinados para início e fim, um local adequado e com o mínimo de distração possível. Como mencionei há pouco, somos seres totalmente relacionais, algumas empresas totalmente em home office hoje promovem reuniões constantes de equipe e encontros presenciais, vejo que isso é muito importante, como aquele momento no “cafezinho” do escritório, onde se compartilha informações. Já para os que trabalham presencialmente, é importante essa organização do tempo, a convivência sadia entre colegas, colocando e respeitando limites, e buscar sempre o equilíbrio entre o papel profissional e outros papéis sociais que executamos na vida.
O mundo do trabalho tem se transformado, e isso é uma consequência do próprio comportamento, nos hábitos e valores da sociedade que vem mudando. Isso por si só demanda adaptações em alguns modelos de trabalho. Se no passado o trabalho era visto simplesmente como uma vocação ou somente como uma necessidade de sustento familiar, hoje com toda essa transformação e mudança de paradigma, A própria carreira é entendida como parte da construção de um projeto de vida do indivíduo. Então o profissional cada vez mais busca atuar em uma área que vá de encontro com suas características e personalidade. E nessa busca por autorrealização cada vez mais as pessoas vão atuar em formas alternativas de trabalho. O importante é que as pessoas se conheçam, entendam o que procuram profissionalmente e possam ir de encontro a isso, seja em um modelo de trabalho flexível ou não.
Se você gostou da entrevista e quer conhecer mais o trabalho do Hamilton (CRP 08/32560), você pode seguir ele no Instagram, LinkedIn ou entrar em contato pelo WhatsApp.